É nóis, maluco

Olha, eu não sei como você caiu aqui. Mas já que tá, não custa um comentário p'ra deixa pegada forte na opinião do baguio. Suave!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Manhã de Sede


Mais uma: Manhã de Sede.

Acordo com o espírito enterrado escondido debaixo da cama. Como se estivesse no fundo de um oceano escuro com monstros ainda sem nome e peso de âncora.

Meu corpo

Corpo antigo de ontem  ainda salgado de oceano escuro acredita ser água mineral em garrafa a solução mágica para suas dores.

A água está acabando, então bebo no bico. A quase água benta não se espalha e então volto para a cama.

Presto atenção na respiração

Entrecortada entre pensamentos que implorei não pensar. E coloco o cobertor e o lençol em cima da cabeça pra ficar mais escuro que janela e olhos fechados.

Tento não me mover. Se eu me mexer, todos os monstros no fundo do oceano irão despertar e com cautela e estratégia poderão emergir e me abraçar forte em seus tentáculos.

Então não me mexo. 

E se fosse diferente?

O ontem?

E se tivesse bebido menos, ontem?

E se tivesse fumado menos, ontem?

E se não tivesse gastado, ontem?

E aí penso no hoje no amanhã mas não já é fim de ano e não há o que se fazer no fim de ano porque tudo está acabando não se começa nada no fim de novembro. 

Meu corpo se racha e vou pela metade até a sala. E olho para a pia com algumas louças de ontem e procrastino lavar a louça porque sei que depois não vai ter o que fazer.

E sento no sofá e acendo um cigarro. Tem 5 que sobrou dos 40 cigarros que fumei ontem. 40! 

O que é mais um?

Com o cigarro na mão direita

 apanho o livro de poesias e abro no primeiro poema e leio em voz alta e me emociono e uma vontade de força de correnteza me pede para voltar a ser menino e jogar bola na rua e ouvir música e escrever diário e andar de bicicleta e descobrir o teatro e trabalhar na loja de fechaduras e levar as contas do patrão até o banco e dar uma volta no quarteirão depois de terminado o trabalho e voltar para a loja.

O filtro do cigarro no cinzeiro. Acomodado entre cinzas leves. 

Reparo no novo presépio com luzinha que acende e que repousa em cima do livro: Hamlet.

Estou com a família abrigada pela estalagem cor pérola. O menino na manjedoura é tão pequenininho e tão frágil. E me sinto pequeno e frágil. E faço oração em palavras. Peço pro Jesusinho afastar os sentimentos ruins. Com fé, peço para iluminar o oceano escuro e me levar para a ponta da areia. Peço um dia de sol e pés na terra. Peço enxada para trabalhar em novos terrenos e barganho que, em troca, serei amor.


segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Travessa da Senador Fonseca. Perto do sapateiro Jura.

 Cosme e Damião me ofereceram sobremesa 

no dia da cura pro meu medo. 


Já tinha passado do tempo 

Em que sustos e sombras acompanhavam um menino

(Não sei medir idade

mas pelas patas e pelos dentes, devia ter quase 11. 


A Filomena

Esposa do Ratão 

Me conduziu até o terreiro.


A partir daí

A memória documenta a falha de 

guarda chuvinhas de chocolate,

batata doce - roxa 

maria mole na casquinha de sorvete

com bexiga.


E tinha fumaça.

Incenso expectorando peito ruim ou a foligem pra incomodar os puros. Aquela fumaça atravessada que compram pra desinfetar corpo que não se encaixa.

Tinha o branco predominante que contrastava com a terra. Cor TERRA. O marrom  dizendo “senta”.


O tempo do tabaque. Do A.


É sempre outro

O tempo do outro.


Fui chamado e fui. Falei com crianças e me deram uma rosa branca.

Pra não ter medo.

Foi a noite mais tranquila. 

Mas.

 Não ter medo.

 Assusta.



quarta-feira, 12 de maio de 2021

2 dias
Sem banho
Dois dias
Sem banho

O aviso
A falta dágua
A falta

Dois dias sem banho de 
Entrega?
2

Água
Sem
Banho

2 dias sem

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Se derretia de tempos em tempos. Mas nada como agora.
Era um derretimento de espírito, de força. De não ação.
Nunca antes tão ensimesmado num futuro que não havia.
se derretia em entidades dormentes
Em impulsos sem molas

Se derretia na horizontal.
Era  casa habitando parasita

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

faz tempo que não escrevo. escrever exige.

escrevo agora porque amo.
amar é o impulso.
escrevo porque amo. 

tua pele 
teu suor
os desenhos do seu sorriso
(TÔ FALANDO DE TODAS AS CURVAS DE TODOS OS TRAÇOS DO MOVIMENTO DA PULSAÇÃO DO RESPIRO DO DIA A DIA )

teu peito
teu convite 
tua força

tua respiração
teu convite

teu ouvido
tua voz

teu tamanho tua propriedade teu desejo  
tua vida.  
você

você me faz feliz
feliz

minha perna bambeia
- agora as duas -
(infinita respiração)
bambeia mais
e mais
e mais
e mais

e num sopro:
estamos juntos.


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

constatou que na estrada a paisagem é bonita às vezes.  só às vezes.
na maior parte do caminho cruza vielas,  chão de terra batido.  chão aterrado com lata de cerveja amassada, saquinho de leite do mês passado,  bitucas de cigarro. ele vê um céu atravessado por fios de gambiarra.  olha pra frente e avista casas irregulares com paredes descascando. cinza e mofo.
o cheiro do transporte é suor coletivo. as vozes cansadas e conformadas no agudo. 
aí, ele coloca um fone no ouvido. a música francesa e tudo se transforma.  a miséria vira clipe. as pessoas tomam classe e seus passos ficam lentos.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

às vezes o tempo pára e o real se converte num clipe.  meu fone nos ouvidos: o muro e a gente dança.  aí o que tenho são olhares,  rostos franzidos,  e gargalhadas sem som. a vida é GIF.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Fim de Semestre

o teatro na escola nessa escola
(ah, aquele menino
que conheceu o teatro na escola
lá atrás...)
PRAZER, SOU DIONÍSIO!

aquele menino querendo ser plínio querendo ser nelson querendo ser shakespeare
aquele menino lá atrás
redescobre o teatro político
de bandeiras sem siglas
de discursos não hipócritas
de possibilidades adolescentes
(daqueles que se permitem e vislumbram o futuro!)
de estratégias nobres
de bom combate
PRAZER, SOU A ESPADA
ele que andou por alguns palcos algumas praças alguns galpões
reencontrou o teatro
na nessa escola
PRAZER, SOU APOLO!
o teatro na escola nessa escola
é de possibilidades
é de "juntos"
PRAZER, SOU CORO!
o teatro na escola nessa escola
é de gritos
de cantorias
de composições próprias
PRAZER, SOU O BODE - SEU SACRIFÍCIO
o teatro na escola nessa escola
é de guitarra bateria e contrabaixo
é punk
é rock
é samba
é macumba
PRAZER, SOU O VINHO!
o teatro na escola nessa escola
é feminino
é negranegro
é o outro
É ELE/ELA
é pra o outro
é além muro
é diferença
PRAZER, SOU ÚNICO
SOU ARENA
SOU PALCO
SOU CARROÇA
SOU PÁTIO
SOU QUADRA
SOU SALA
SOU ÁRVORE
SOU VIOLÃO
somos corpo voz e coração
tão novo
somos só isso
e
podemos
tudo
pode mundos no teatro na escola nessa escola
(o teatro na escola nessa escola
não é didático
rá!)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

se viu sozinho. pelado numa igreja vazia. um corpo surrado pedindo clemência num espaço santo sem imagens, sem bancos com encostos para joelhos e convites pra rezas e penitências.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

é que o pote de ouro não está no final do arco íris. não, não está. a travessia é de poucas cores. atravessamos por pedras, caminhos de lixo e, sim, por vezes, estradas mais coloridas.
o pote de ouro não é o que você quer no momento. o pote de ouro é além. o pote de ouro é reposta da vida para o seu caminhar. e a vida não tem pressa. a vida não tem tempo, ou o tempo dela é outro. a tua neurose, tua pequena necessidade, o valor que você acha que tem, não interessa para a vida. a vida gosta de insistência, a vida gosta de caminhada longa. e o pote de ouro é destino. e o destino é moldado passo a passo. a cada micro segundo uma bifurcação e uma escolha a ser feita.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

a poesia te espera entre as mãos do seu velado pai
nas lágrimas contidas e secas de tua mãe

está lá
num raio de ação mais próximo
que o claro quando abrir os olhos

está esperando seu encontro
fugindo de você

a poesia tem riso cínico
como se dissesse de canto de lábios
"sou necessidade tua?"
"precisa de mim?"
"tá vazio aí dentro"

a poesia correu das borboletas lindas de cecíla meireles
e está próxima de você
quer beber o seu terror
seus desejos menos fofos

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

carta a um amigo

sabe, cara
toda vez que eu dialogo com o abismo escuro numa profundidade a beira do insuportável, no outro dia me vem fé e amor.
chega, quase entregue por anjos, uma crença inabalável de que essa loucura que nos faz rude e destemperado perante a vida tem a mesma força de uma loucura onde vejo humanos trilhando um caminho leve e amoroso.
o dia seguinte ao confronto com sombras é sempre muito cruel.
e a pergunta é:
"onde e quando foi que eu me perdi?
que o homem se perdeu"

cara,
hoje repensei meu mundo

sabe, cara
ontem em algum momento cobrei a sua persistência.
estava me cobrando
dolorosamente
a continuar
SEMPRE

e decidi que quero viver em busca da luz e do amor
deixar a alma aberta
ser mais paciente comigo e com os outros
e mentalizar coisas boas
para todos

abdicar de pensamentos que não vergam
e metamorfosear-me em água

sim, pode ser tudo uma ilusão!
mas o outro lado também não é?

.

uma boa semana, cara
e até

domingo, 3 de agosto de 2014

o quintal velho com baldes velhos e paredes de cores diferentes
tinta gasta
chão rachado
varal de ponta a ponta com roupas velhas

o quintal de tanque trincado
de máquina de lavar roupas antiga e barulhenta

o sol também visita este quintal.

domingo, 29 de junho de 2014

fechou os olhos. desceu as pálpebras com muita força e evocou a entidade 3 vezes
o silêncio se fez
nada
vazio

"minha confissão não vem carregada de culpa."

lentamente
no compasso de uma respiração
abriu os olhos e
estava mais negro que nunca
oco

dirigiu-se ao nada
em pensamentos que eram mais concretos que a fala

"me construí um ser humano pior"

"maltrato meu corpo minha cabeça noite anoite
coração pulmão fígado cérebro
língua
ouvidos"

"gasto joelhos e pés
carne e ossos e facas
em lugares longínquos
no mesmo círculo de idiotices"

"ODEIO O/"

e foi interrompido pela luz
e fez-se a luz
intensa e quente

viu em suas mãos
um revólver
desses de pequeno porte

(estava lá
carinhosamente entrelaçado em seus dedos
de unhas compridas e sujas )

ouviu a voz
que era mais concreta
mais tenebrosa que seus pensamentos:
FAÇA

paralisou estancou quis gritar e não pôde
olhos arregalados!

ouvia seu coração
o fluxo do sangue quente e veloz
como jamais tinha sentido
a cabeça
ah, a cabeça
pensou tanto
tanta coisa ao mesmo tempo
que teve que gotejar raciocínio em água salgada
escorrendo em seus poros e orifícios.

sem soluços

novamente a voz:
IDIOTA